Durante muitos e muitos séculos, um conceito fez parte indissociável do Evangelho: somos todos pecadores, miseráveis, desgraçados, caídos e carecemos desesperadamente de Jesus para não gastarmos os trilhões de anos que virão após nossa morte no inferno e sim na companhia do Senhor. Isso sempre foi óbvio na mente de cada cristão, não tinha nem o que discutir. E a culpa disso sempre foi do homem, nunca de Deus. Pior: para muitos, ainda era preciso ser muito bom e caridoso e, em casos extremos, em certas épocas da História, o sofrimento e a autoflagelação foram considerados necessários para purgar os pecados desta vida e abrir as portas do Céu. Hoje, em nossos dias, isso mudou. E como mudou!
Uma enorme parcela da Igreja quer viver o Evangelho como se fosse um resort, com uma vida relaxada, “numa nice”, como dizia a gíria da década de 70, “sem estresse”, “tranquilis”. Deus passou a ser visto não mais como o Justo Juiz, mas como aquele que “sacia-me”, que “restitui, pois eu quero de volta o que é meu”, (músicas que alguém devia proibir de serem cantadas em igrejas) que passa a mão na nossa cabeça e, complacentemente, sorri diante dos nossos maiores pecados e fala: “Deixa de ser bobo, menino, relaxa, para de sofrer, errar é humano. Toma aqui a minha graça. Tá tudo de boa”. Mas a realidade bíblica é bem mais severa do que essa imagem popular e falsa.
Deus é o mesmo ontem, hoje e será para sempre. Ele não mudou nem vai mudar. A exigência de santidade que tinha no primeiro século, quando disse “vai-te e não peques mais” é a mesma de hoje. Infelizmente, a cultura cristã do século XXI construiu a imagem de um Deus tão gente fina que atualmente falar em punição, inferno, julgamento, juízo, exigências e outras realidades totalmente bíblicas faz muitos se arrepiarem – quando não te olham como um ET e acham que você está falando um idioma desconhecido. E se não te chamarem de “fariseu” por defender que “faz o que tu queres pois é tudo da lei” não é uma ideia canônica. E quando falo “muitos” me refiro a Pastores e ovelhas.
Se pregamos que Deus exige obediência aos Dez Mandamentos, que temos de abdicar daquilo que nos é conveniente por amor a Ele, que precisamos fazer qualquer coisa que exija esforço… Somos logo acusados de forjar um Deus mau. Um Deus que não tem graça. Um Deus legalista. Um Deus fundamentalista. Na cabeça de grande parte da Igreja, o Senhor tem uma venda nos olhos chamada “graça” que nos permite seguir o rumo que quisermos e descumprir o que a Biblia ensina, desde que digamos “Jesus Cristo é o Senhor”. Aí tá tudo beleza.
O que muitos não se dão conta é que Deus não pede para cumprirmos Seus mandamentos. Como diz o nome, eles são man-da-men-tos. São ordens. São exigências. Inegociáveis. Deus quer, Deus estipula e Deus determina. A nós cabe obedecer. Só que muitos acham que um Deus bom, um Deus que é amor, jamais diria “não pode”. Mas o texto das Escrituras mostra dezenas de vezes Jesus de Nazaré proibindo e condenando atitudes. Ou seja: não pode! Quando Jesus diz “vai-te e não peques mais”, o que Ele está dizendo é “te perdoei. agora não faça mais aquilo que não pode”. Sim, Deus tem padrões morais, éticos e de conduta e tudo o que vai contra eles, lamento informar… não pode.
Caetano Veloso é quem diz “É proibido proibir”. Na Biblia essa filosofia não existe. Divórcio? Ah, Deus entende. Palavreado torpe? Tranquilo, Deus é dez. Consumo de músicas, programas de TV e filmes anticristãos? Coisinha de nada, seu legalista. Glutonaria? Ahn, isso é pecado? Olhar de modo lascivo para homens e mulheres? Qual o problema, olhar não tira pedaço. Disseminar discórdias sobre a autoridade eclesiástica e a membresia? Bah, hierarquia na Igreja não existe, e o sacerdócio universal dos santos? E por aí vai. Nós cometemos pecados que do ano 30 da era cristã até mais ou menos 1970 fariam qualquer cristão se arrepiar, cobrir-se de cinza e vestir-se de saco e transformamos numa prática justificável – afinal, a graça de Deus taí pra aliviar qualquer parada, não é isso?
Deus é amor. Deus tem graça. Mas o mesmo Deus é severo e odeia o pecado. Odeia. Quando José é convidado pela esposa de Potifar para fazer sexo, José diz “mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gênesis 39.9). Repare: José não diz que o pecado é contra si próprio, contra ela ou mesmo contra o que seria o marido traído: é contra Deus.
Mas aí nós, que somos de uma geração que tem a mente encharcada por ideias antibiblicas de pensadores como Bultmann, Nietzsche (foto), Sartre, Freud e tantos outros que questionaram, dilaceraram, remodelaram e relativizaram o Evangelho, carregamos influências confusas. que em nossas mentes e em nossos corações esculpem um Deus que, se exige algo de nós – como, por exemplo, obediência, santidade, arrependimento ou contrição – é mau, perverso, farisaico. Só que, com isso, a luz de Cristo deixa de iluminar o caminho para a salvação e passa a ser um vaga-lumes que encanta poetas e faz cristãos que estão em pecado se acharem confortáveis na escuridão de suas transgressões.
Eu peco todos os dias. Alguns desses pecados são muito cabeludos. Não teria coragem de confessá-los a Deus de cabeça levantada. Faço coisas que me fazem fitar o chão e ter vergonha de me chamar de “cristão”. Sei que tenho um advogado junto ao Pai, sei que a graça de Deus me redime mediante o meu arrependimento, sei que toda vez que como as bolotas dos porcos o Pai me espera com um anel para o dedo e um novilho cevado para nos banquetearmos. Sei de tudo isso. Você também sabe. Mas o que nunca podemos perder de vista é que quem semeia corrupção na carne colhe corrupção na carne. Que um dia todos daremos conta de tudo o que fizemos e falamos. Que nossas ações geram consequências. E a maior de todas essas consequências é que, como Deus não é mau, cada vez que pecamos achando que Ele vai sorrir e Sua graça vai resolver tudo, nós na verdade o estamos entristecendo, magoando, machucando. A graça de Deus não impede que o Senhor sinta a dor da nossa desobediência. A cada pecado nosso, torturamos Deus. Maltratamos Jesus. Eu já cometi pecados hediondos e, confesso a você, após a minha conversão. O velho homem veio à tona. E me cubro de cinza e pó por causa disso, com as entranhas rasgadas pelo meu arrependimento, desgraçado que sou, filho ingrato de um Pai amoroso. Que Ele tenha misericórdia da minha alma.
Nós consideramos os judeus que armaram contra o Cristo homens perversos. Detestamos Caifás, Pilatos, Judas, os fariseus e os soldados romanos. São gente ruim, que fizeram mal ao Bom Pastor, ao manso Cordeiro. E, no entanto, fazemos com Ele diariamente as mesmas coisas. Impomos sobre Ele o sofrimento e a dor de saber que aqueles por quem tanto sofreu o estão desobedecendo e impondo-lhe mais sofrimento – se não no corpo, no coração. E. se isso por si só não bastasse, em vez de reconhecer nosso pecado o justificamos usando como desculpa logo… a graça do Senhor.
Deus não é perverso. Eu sou. Você é. Nós, cristãos falhos e equivocados, somos. Que pelo menos tenhamos a hombridade de reconhecer isso. E parar com essa mania de achar que, se Deus nos diz que não podemos fazer coisas que ferem a Sua santidade, isso o torna alguém mau. Não. Isso faz dEle alguém justo e coerente.
Deus não tem que se amoldar a seus desejos, vontades e crenças. Eu e você é que precisamos conhecê-lo bem, por meio da Bíblia, para saber exatamente quais são os desejos e as vontades DELE. E assim tomarmos vergonha na cara e começarmos a fazer o que é certo. Isso não é legalismo. Isso não é fundamentalismo. Isso não é biblicismo. Isso não é farisaísmo.
Isso é Cristianismo.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Os méritos desse POST é do Ir. Maurício Zágari
Para conhece-lo melhor acesse: http://apenas1.wordpress.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário